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Dalomba Chikoti: Secretário Nacional-Adjunto para o Pessoal e Quadros da UNITA- Sousa Jamba

Dalomba Chikoti, recentemente nomeado Secretário Nacional-Adjunto para o Pessoal e Quadros da UNITA, é um dos rostos de uma geração que tenta conciliar militância e aprendizagem no sector privado. Nasceu no Cuando Cubango e traz para a direcção nacional um olhar formado na periferia.

 

Conheci-o em 2018, na Camela Amões, na comitiva de Nelito Ekuikui, então em campanha para Secretário-Geral da JURA. Nelito, descendente de linhagem real ovimbundu, fez comigo a viagem até á ombala do Bailundo. Dalomba seguia no banco de trás, quase sempre calado, com os olhos a registarem o que a boca não comentava. Impressionou-me a inteligência discreta: não se precipitava nas frases, deixava que a realidade assentasse antes de lhe pôr palavras.

Anos depois chega à direcção nacional pelo caminho que muitos jovens militantes trilham: sacrifício pessoal continuado, experiência no sector privado, formação política metódica.

 

Ser jovem activista da UNITA está longe de ser aventura glamorosa. Não há salário; existe um subsídio que, na melhor das hipóteses, cobre parte das deslocações. Para que esta vida seja sustentável, os cônjuges precisam de compreensão rara da causa e de forte sentido de compromisso.

 

O antigo espírito de guerrilha nunca os abandonou. Podem viver nas cidades e usar gravata, mas a ideia de que o fim, entendido como o poder político, justifica muitas iniciativas ficou incrustada. Grande parte do esforço diário orienta-se para pequenas vilas onde a UNITA nunca adormeceu, com noites em casas de simpatizantes, saídas para povoados recuados e sobrevivência garantida pela hospitalidade das comunidades. Nesse vaivém entre alcatrão e terra batida se reforça a ligação entre dirigentes e base.

Como tantos outros, Dalomba mantém lavras no interior. Em Katchiungo cultiva feijão e ervilha, construindo hectare a hectare um pulmão económico que sustenta a militância e protege a autonomia.

 

Antes da nomeação de 2025, Chikoti já havia desenhado um percurso consistente. Entre 2023 e 2025 foi Secretário Nacional para a Autossuficiência e Património da JURA. Entre 2019 e 2021 foi assessor do Secretário Provincial da UNITA em Luanda, exposto à turbulência política e logística da capital, onde cada reunião obriga a equilibrar escassez de recursos com excesso de expectativas.

 

Em paralelo, é empresário nos sectores da agricultura e dos transportes desde 2008. Gerir negócios nessas áreas, em Angola, aproxima-se de uma prova de resistência: negociar preços num mercado volátil, enfrentar estradas que são metáfora do país, fazer contas onde as regras mudam depressa. Essa experiência alimenta hoje as suas responsabilidades de identificar, formar e colocar quadros em todo o território.

 

No plano académico, é licenciado em Gestão de Recursos Humanos pelo Instituto Superior de Calandula e bacharel em Informática pela Universidade Óscar Ribas. Esta dupla formação oferece instrumentos para modernizar práticas internas, da gestão do corpo de quadros ao uso de plataformas digitais para mapear competências e planear colocações. Um responsável pelo Pessoal que compreende o capital humano e as engrenagens tecnológicas está bem colocado para ajudar a UNITA a passar de redes informais a mecanismos mais estruturados.

 

Para Dalomba e para o departamento que integra, este trabalho cruza-se com uma Angola que tenta diversificar a economia. Ganham peso programas de capacitação, bolsas de estudo, formações técnicas e estágios que preparam jovens profissionais para um mercado em mutação. A ambição é clara: que os militantes não sejam apenas beneficiários de políticas públicas, mas actores da transformação económica.

Nos últimos anos, a UNITA tem vindo a estreitar relações com organizações internacionais e com o sector empresarial. Espera-se que o departamento de Pessoal e Quadros funcione como canal por onde oportunidades cheguem a jovens profissionais, identificando talentos, preparando-os e ligando-os a programas de bolsas e redes de contacto.

 

A formação política de Dalomba foi consolidada com coerência. No partido concluiu o Curso Político Básico e um programa de Formação Política e Ideológica. Com a Fundação Konrad Adenauer frequentou cursos de Comunicação Política, Preparação Eleitoral e Ferramentas de Comunicação para a Participação Cívica. Trata-se de investimento deliberado na arte de falar com eleitores e de envolver cidadãos com profissionalismo que contrasta com a improvisação ainda dominante na vida pública angolana.

Fluente em português e umbundu, Chikoti move-se com naturalidade entre a língua das instituições e uma das principais línguas nacionais. No novo cargo, essa versatilidade converte-se em instrumento diário no diálogo com militantes de diferentes regiões e gerações, ponte entre a liturgia dos gabinetes e a respiração dos comités de base.

 

A trajectória de Dalomba, do Cuando Cubango a Luanda, da agricultura à direcção nacional, espelha o perfil que a UNITA afirma desejar: politicamente formado, socialmente enraizado, profissionalmente credível. Resta saber se o sistema permitirá que este perfil floresça ou se o consumirá na rotina. Por agora, ter alguém com este itinerário no coração da máquina partidária é sinal de que a história dos que vieram do mato continua a procurar reinventar-se.

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