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Caso Kopelipa: absolvição desmonta processo, mas alimenta nova ofensiva política

Luanda —No dia 1 de Dezembro, o Correio da Manhã, em Portugal, publicou uma peça que alega que o General Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” teria transferido 34 milhões de euros para o seu filho através de um banco russo, usando sociedades desconhecidas e contas alegadamente congeladas pelo Ministério Público português. Nenhuma dessas afirmações é verdadeira. Mas a fabricação não é ingénua. Ela é parte de uma operação mais vasta que, nos últimos anos, a “luta contra a corrupção” foi usada por determinados agentes que tinham a tarefa de a implementar — não para construir um Estado íntegro — mas como instrumento para fins inconfessos.

*Carlos André
Fonte: Club-k.net

É preciso, portanto, restabelecer a factualidade antes que a manipulação se converta em versão oficial.


As empresas Ediw (ou “Edwin”) Capital e Ediw Imobiliária não pertencem ao filho do general, Carlos Aniceto Vieira Dias, e nunca houve uma relação entre si. O filho de Kopelipa não recebeu qualquer transferência de 34 milhões de euros via banco russo. Não houve contas congeladas. Não houve recurso ao Tribunal da Relação de Lisboa. Não houve qualquer indicação formal do DCIAP que sustente as alegações da matéria.


A peça resulta de uma plantação de informação feita por uma alta figura do Serviço de Inteligência e Segurança Externa de Angola (SINSE), em concertação com o advogado português Paulo Blanco, e aceite pelo jornal sem verificação mínima. Não é jornalismo: é instrumentalização.


No passado 17 de Novembro, o Tribunal Supremo de Angola absolveu Kopelipa de todos os crimes de que estava acusado e ordenou a restituição do seu património. Entre os documentos que fundamentaram a sentença, encontra-se um relatório enviado por Portugal no âmbito da cooperação jurídica bilateral, com o histórico das investigações que remontam a 2010. Esse processo foi encerrado em Portugal, por decisão do tribunal.

É precisamente esse marco — a absolvição — que desencadeia a reacção. Com a queda das acusações internas, Kopelipa recupera margem para contestar as sanções impostas pelos Estados Unidos.

Assim, a nova narrativa do Correio da Manhã procura manter o general sob vigilância internacional e impedir, de facto, que o ciclo político aberto com a absolvição se feche.

A luta anticorrupção deixou de ser um princípio e tornou-se um método de controlo. Mas a verdade não é propriedade de nenhuma facção, e a sua manipulação tem consequências devastadoras para a democracia.

A escolha do Correio da Manhã ao mencionar um “banco russo” não é inocente.

Em Angola, dois cidadãos russos encontram-se actualmente acusados de actos de terrorismo, financiamento ao terrorismo e tentativa de alteração da ordem constitucional. A ligação russa tornou-se, nos discursos internos, um atalho para insinuar ameaças à segurança nacional.

Em 2019, muito antes de qualquer processo judicial de corrupção, o general Kopelipa foi acusado — informalmente e sem prova — de tentativa de golpe de Estado. A acusação nunca existiu juridicamente, mas cumpriu o objectivo político: manchar e imobilizar a sua figura.

Ao introduzir agora a narrativa de 34 milhões transferidos por um banco russo, certos actores dentro dos serviços de inteligência angolanos procuram reactivar essa sombra antiga e associá-la a novos fantasmas.

Não há factos — apenas engenharia simbólica.

A palavra “Rússia” funciona como gatilho para serviços estrangeiros, diplomatas e organismos de sanções.

É um mecanismo de prolongamento artificial do estigma, mesmo depois da absolvição judicial.

Assim se fabricam suspeitas: não com provas, mas com associações. Não com documentos, mas com medo.

O que vivemos hoje é a degradação total do instrumento da verdade — e, sem verdade, não há reforma possível.

Uma luta anticorrupção que escolhe alvos conforme a conveniência deixa de ser luta: é vendetta.

A manipulação em torno do caso Kopelipa — quer em Angola, quer em Portugal — é mais um sinal de que o país está a ser conduzido por narrativas fabricadas e não por princípios.

Denunciá-lo não é defender ninguém: é defender o direito dos angolanos a um Estado que funcione para eles, e não contra eles.

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