Senhor Presidente,
Espero que esta carta o encontre em boa saúde e com o espírito aberto à reflexão serena que a responsabilidade histórica do seu cargo exige.
Escrevo movido por profunda preocupação cívica ao acompanhar, nos últimos tempos, os seus discursos e intervenções públicas dirigidos ao cidadão e militante do MPLA Higino Carneiro. Tais pronunciamentos deixam transparecer, a quem observa com atenção, que Vossa Excelência poderá estar mal aconselhado ou excessivamente cercado por conselheiros que confundem disputa política com desqualificação pública, e liderança com intolerância.
Convém recordar que, à luz da Constituição da República de Angola, Vossa Excelência é Chefe de Estado, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas. É, igualmente, Presidente do MPLA. Essas funções, acumuladas num só homem, não ampliam apenas poderes; ampliam, sobretudo, deveres éticos. A palavra presidencial não é uma palavra comum. Ela educa, orienta, legitima comportamentos e cria precedentes históricos.
Não é compatível com a grandeza do cargo que ocupa ver um Presidente da República, em entrevistas televisionadas, comícios ou actos públicos, a dirigir mensagens indiretas, recados ou reprimendas públicas a um correligionário que apenas exerceu um direito constitucional e estatutário: o de manifestar a intenção de concorrer à liderança do seu partido. Higino Carneiro, como qualquer cidadão angolano, é livre. A liberdade política não pode ser tolerada apenas quando não ameaça o poder instalado.
Aristóteles, na Ética a Nicômaco, ensina que o verdadeiro estadista é aquele que governa pelo exemplo, e que a virtude não reside no uso da força, mas na moderação, na prudência e na justiça. O governante virtuoso não reage por impulso, nem governa pelas paixões do momento; governa pela razão. Como o pastor que cuida do rebanho, não pode permitir-se gestos que provoquem medo, divisão ou ressentimento entre as ovelhas.
Maquiavel, tantas vezes mal interpretado, também advertia que o Príncipe que governa apenas pelo medo acaba isolado, e que a estabilidade do poder depende mais do respeito do que da intimidação. Um Chefe de Estado forte não precisa humilhar adversários; precisa elevá-los à regra comum da lei e do respeito mútuo.
Nas sociedades africanas, os mais velhos são reservas morais. São referências éticas, exemplos vivos para as gerações mais novas. Espera-se deles serenidade, equilíbrio e sabedoria. Quando os mais velhos se expõem ao conflito público desnecessário, enfraquecem a autoridade simbólica que sustenta a ordem social. A liderança africana sempre foi mais pedagógica do que punitiva.
O próprio MPLA ensinou, durante décadas, que “a roupa suja lava-se em casa”. Hoje, contudo, assiste-se à exposição pública de divergências internas em televisões, rádios, jornais e redes sociais. Essa prática não dignifica o vosso partido, não fortalece o Estado e não contribui para a estabilidade política do país. Pelo contrário, banaliza o conflito, normaliza a intolerância e alimenta a desconfiança dos cidadãos nas instituições.
O que Angola precisa, neste momento histórico, é de maturidade política. Precisa de respeito entre concorrentes, tolerância entre divergentes e elevação no debate público. Precisa de líderes que saibam separar o interesse pessoal do interesse nacional. O país precisa, acima de tudo, de estadistas capazes de romper muros partidários, minimizar partidos e maximizar a nação. Angola é maior do que qualquer partido político, maior do que qualquer liderança circunstancial.
As futuras gerações julgarão não apenas as obras físicas dos governantes, mas o ambiente moral que deixaram como herança: se promoveram a liberdade ou o medo, a tolerância ou a perseguição, o diálogo ou o silenciamento.
Antes de concluir, faço questão de esclarecer, com honestidade intelectual, que não conheço pessoalmente o cidadão Higino Carneiro, nunca mantive qualquer contacto com ele, e o meu posicionamento político é público: o meu candidato é o Presidente Adalberto Costa Júnior, a quem votarei com convicção em 2027. Esta carta, portanto, não nasce de alinhamento partidário oculto, mas de um princípio mais profundo: a rejeição da injustiça.
A injustiça sempre inquietou os espíritos livres. Aprendi, desde cedo, no hino nacional, a ser solidário com os povos oprimidos. Quando um cidadão é alvo de ataques públicos reiterados por manifestar uma ambição política legítima, não estamos diante de um debate saudável, mas de um sinal preocupante de perseguição política.
Que esta carta seja lida não como afronta, mas como apelo à razão. Que sirva não apenas para o presente, mas como testemunho para as próximas gerações: o poder passa, mas a ética permanece. A força impõe-se por um tempo; a virtude, essa, atravessa a história.
Com respeito institucional,
mas com firmeza cívica.
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